terça-feira, 13 de abril de 2010

Nosso estilo de vida

“A prática da humildade é a difícil arte de contenção e privação da soberba existente dentro do coração humano, ansiosa por dominá-lo por meio da autoadmiração, autoelogio, auto-estima, auto-promoção e auto-suficiencia”.




A dificuldade da humildade decorre do fato de que ela tem de ser autêntica. Não pode ser aparente. Não pode ser fingida. Ou existe ou não existe. Há pessoas soberbas que conseguem dar uma aparência de humildade, o que não tem valor nenhum diante de Deus. Há pessoas verdadeiramente humildes, mais interessadas na humildade interior, que eventualmente podem dar a impressão de que não são humildes. Certamente é o caso do salmista quando diz: “Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais entendido que os idosos, porque guardo os teus preceitos.” (Sl 119.99-100.) Na verdade, o que o autor faz aí é uma apologia das Escrituras Sagradas, e não de si mesmo. Este é o tema de todo o salmo 119. É preciso tomar muito cuidado com a falsa humildade. A perfeita humildade de Jesus nunca foi sequer arranhada por frases como estas: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6.51); “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12); “Eu sou o bom pastor” (Jo 10.11); “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30); “Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). São Bernardo tem, pois, toda razão quando define a virtude da humildade como “o mais perfeito conhecimento de nós mesmos”. Por sua natureza, a humildade tem de se alojar primeiro no íntimo para só depois se exteriorizar.

Muitos nomes e muitos rostos
A soberba tem muitos nomes – altivez, arrogância, exibicionismo, jactância, ostentação, orgulho, pedantismo, pernosticidade, presunção, vaidade, vanglória. E muitos rostos – existe o orgulho do berço nobre, o orgulho do sobrenome famoso, o orgulho da beleza corporal, o orgulho social, o orgulho carismático, o orgulho do exatamente correto, o orgulho pentecostal e até o orgulho da humildade e o “orgulho gay”.

A vaidade é um dos ingredientes mais indesejados e poderosos de pecaminosidade latente. O ser humano nasce e cresce com essa propensão e há de lidar com ela a vida inteira. Pois a cultura secular estimula e favorece a soberba do berço ao túmulo – no lar, na escola e na sociedade.

O que a humildade não é
1. Não é uma questão de aparência. A soberba mais grave é aquela que se esconde por trás de uma falsa humildade. A humildade é uma virtude para Deus e não para o homem ver.

2. Não é a negação pura e simples de dons, capacitação e virtudes pessoais, mas o sentimento constante da necessidade de Deus para se ter uma vida espiritual saudável, de vitória sobre o pecado e as provações, e cheia de frutos verdadeiros.

3. Não é a mera rejeição de palmas, prêmios e coroas, mas a transferência destas para quem de direito (Ap 4.9-11) ou a prática verdadeira do “soli Deo gloria” (glória somente a Deus).

4. Não é a autodesclassificação, a renúncia da inteligência, sabedoria, experiência, força de vontade, trabalho árduo mas a associação dessas coisas com os recursos que promanam (originam) de Deus.

5. Não é a inatividade, o cruzar dos braços, mas a atividade comandada e alimentada pela sabedoria e providência de Deus.

A soberba é coisa séria
Mesmo na vida secular a soberba é tratada como algo perigoso. Diz-se com frequência que a soberba tem sido um dos motivos de derrotas surpreendentes no mundo esportivo. “Os eufóricos jogadores deixam a chuteira à beira do gramado e entram no campo de salto alto”, comenta a torcida para zombar da auto-suficiência dos atletas. Para contornar a soberba e manter o necessário equilíbrio, Victor Hugo, depois de ouvir os elogios dos amigos, lia os jornais que o enxovalhavam. E, para evitar o pecado do orgulho de não terem transgredido, os monges de Cluny, na França do século 11, eram obrigados a se curvar diante dos que tinham transgredido.

A Bíblia trata com muita severidade o pecado da soberba. Eis aqui alguns exemplos.

1. O salmo de Davi. Se não tivesse convicção pessoal do perigo da soberba, Davi não teria feito esta súplica: “Também do orgulho salva o teu servo para que não me domine; então serei irrepreensível, e imune do grande pecado.” (Sl 19.13, CNBB.)

2. O provérbio de Salomão. Uma das frases mais suscintas e mais sábias sobre o orgulho é da lavra de Salomão: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” (Pv 16.18.) A Bíblia Viva prefere parafrasear assim: “A desgraça está um passo depois do orgulho; logo depois da vaidade vem a queda.” Por aí se vê que o caminho mais curto para o escândalo é a soberba.

3. A citação de Pedro. Tanto Tiago (Tg 4.6) como Pedro (1Pe 5.5) trouxeram para o Novo Testamento outro provérbio de Salomão (Pv 3.34) sobre a soberba: “No trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.” O nosso comportamento nessa área determina a atuação de Deus.

4. O cântico de Maria. Por ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus, Maria ficou impressionadíssima com o trato que Deus dispensa aos soberbos, de um lado, e aos humildes, do outro. O Poderoso dispersou os que no coração alimentavam pensamentos soberbos, derrubou de seus tronos os poderosos e despediu vazios os ricos. Todavia exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e amparou a Israel (Lc 1.46-55). O anjo Gabriel disse que ela era “muito favorecida” (Lc 1.42). Isabel lhe disse: “Bendita és tu entre as mulheres.” (Lc 1.42). E as gerações futuras diriam que ela era uma mulher bem-aventurada (Lc 1.48), mas Maria se dizia “serva do Senhor” (Lc 1.38, 48).

Tratamento de choque
A soberba é um problema tão sério que exige uma série de medidas de caráter radical para acabar com a doença. Veja estes dois exemplos:

1. O caso do Egito. Foram necessários quarenta anos de desolação e dispersão para curar a soberba do Egito e tornar o país “o mais humilde dos reinos”. A vaidade do Faraó dessa época era tanta que ele dizia a respeito do rio Nilo: “O meu rio é meu, e eu o fiz para mim mesmo.” (Ez 29.1-16.)

2. O caso de Nabucodonosor. A soberba do rei da Babilônia foi semelhante à do rei do Egito. Mesmo prevenido em sonhos por Deus com um ano de antecedência e exortado por Daniel a pôr termo em seus pecados pela prática da justiça, Nabucodonosor não se humilhou diante do Senhor: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Dn 4.30.) Logo depois de haver proferido tais palavras cheias de arrogância, cumpriu-se a profecia do Senhor e a árvore cuja altura chegava até o céu foi de súbito derrubada: Nabucodonosor teve um distúrbio mental que o levou a passar algum tempo na companhia dos animais do campo, como se fosse um deles, até aprender que o “Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Dn 4.32) e “pode humilhar aos que andam na soberba” (Dn 4.37).

Prevenção da soberba
Outro expediente que mostra a seriedade e o malefício da soberba foi o cuidado de Deus em colocar em Paulo o estranho, mas eficaz, espinho na carne, que no entendimento do apóstolo era “mensageiro de satanás para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2Co 12.7). (A paráfrase da Bíblia Viva diz: “Deus ficou receoso de que eu me inchasse”.)

Todos os homens são propensos à vaidade, sobretudo, depois do sucesso, depois de certos privilégios, depois dos elogios. Paulo não era exceção à regra. Ele havia sido arrebatado ao terceiro céu e ouvido as palavras inefáveis. O espinho na carne, embora incômodo e humilhante, tinha o propósito de reduzir o risco de Paulo começar a chamar a atenção dos outros para si mesmo e para aquela experiência extraordinária. Por três vezes o apóstolo orou ao Senhor para que o retirasse e por três vezes Deus não satisfez o seu desejo e lhe disse: “O poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2Co 12.9.) Ao final, Paulo entendeu o que estava acontecendo e aceitou alegremente as regras do jogo: “Quando estou fraco, então sou forte – quanto menos tenho, mais dependo dele.” (2Co 12.10, BV). Graças a essa medida preventiva, Paulo nunca foi encostado, nunca deixou de produzir frutos, nunca cometeu escândalo. “O primeiro passo rumo à humildade”, lembra C. S. Lewis, “é o reconhecimento do nosso orgulho”. Os espinhos na carne que Deus distrbui por aí ajudam os homens a recusar vezes sem conta o pedestal que a cultura mundana associada à vontade de aparecer quer construir para eles.

Sucesso com humildade
O sucesso faz parte dos planos de Deus para o homem. Sucesso na vida devocional, no casamento, na criação e educação dos filhos, nas relações humanas, no exercício da profissão e no desempenho dos dons do Espírito. Desse sucesso global, depende, sob a perspectiva humana, a velocidade da implantação e da plenitude do reino de Deus na terra. Uma vez satisfeitas todas as exigências de Deus, o sucesso está garantido: “Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares.” (Js 1.7.) Na verdade, o sucesso é inevitável para quem está plantado junto às águas: “Tudo quanto ele faz será bem sucedido.” (Sl 1.3.) Essa promessa não está apenas no Antigo Testamento. Jesus chegou a dizer que o sucesso de seus discípulos é uma das expressões de louvor a Deus: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto.” (Jo 15.8.) Todavia há alguns fatores que devem ser cuidadosamente lembrados:

1. O papel da videira. O sucesso está condicionado ao relacionamento pessoal e permanente com Jesus: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5.) Paulo também fala sobre isso: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.” (2Co 2.14.) Assim como a locomotiva movida a eletricidade não corre se não estiver continuamente se encostando num fio de alta tensão, o crente não anda e nada produz se não estiver ligado à fonte de todo poder, que é Deus. Esta é a experiência de Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece.” (Fp 4.13.)

2. O papel da humildade. Porque impede o desenvolvimento da auto-suficiência e leva o crente a buscar constantemente a direção, o auxílio e a bênção de Deus, a verdadeira humildade redunda numa vida bem-sucedida. Daí o raciocínio de Paulo: “Quando sou fraco então é que sou forte.” (2Co 12.10.) A explicação que a Bíblia dá para o fenomenal sucesso de José em qualquer lugar (na casa de Potifar, no cárcere e no trono do Egito) e em qualquer circunstância (amado, invejado, caluniado e honrado) é sempre a mesma: “O Senhor era com José.” (Gn 39.2-3, 21, 23.) A expressão é aplicada também ao sucesso de Davi: “O Senhor era com Davi.” (1Sm 18.12, 14, 28; 2Sm 5.10; 7.3; 8.14.)

3. O papel da vigilância. Se a humildade não for prudentemente mantida, com certeza o sucesso fomentará a soberba e esta, por sua vez, a ruína. Assim, uma história de sucesso vai inexoravelmente por água abaixo. É nesse caso que o sucesso leva ao fracasso. Daí o cuidado de algumas pessoas em proclamar não as suas virtudes, mas as grandezas do Senhor: “Para muitos sou como um portento, mas Tu és o meu forte refúgio” (Sl 71.7); “Se não fora o auxílio do Senhor, já a minha alma estaria na região do silêncio” (Sl 94.17); “Não fosse o Senhor, que esteve ao nosso lado, [...] as águas nos teriam submergido” (Sl 124.1-5); “A nossa suficiência vem d e Deus” (2Co .5). Como prevenção contra a soberba, o povo de Israel deveria ter sempre em memória os benefícios do Senhor: “Não digas, pois, no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas.” (Dt 8.17.)

Humildade sem medo
Muitos têm medo da humildade. Acreditam que ela não leva a nada, não produz resultado algum, é perda de tempo, é nadar contra a correnteza, é expor-se à exploração alheia. O medo decorre da lei do mais forte, que prevalece desde a queda do homem e cada vez mais se amplia. A cultura mundana valoriza a soberba, e não a humildade. Dá mais valor à roupa, ao nome, aos títulos, aos diplomas, aos anéis, ao dinheiro, ao status social, à pose, ao poder, e não reconhece o valor da piedade, da religiosidade, da santidade de vida e da modéstia cristã. Daí o medo de ser esmagado pela multidão ao tentar sair dela e ser diferente. Embora até certo ponto razoável, o medo da humildade desaparece quando o crente se conscientiza de que ela é de fato a chave do verdadeiro sucesso e de que, na difícil prática da humildade, ele pode contar com a proteção da poderosa mão de Deus: “Sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus para que ele os honre no tempo certo.” (1Pe 5.6, BLH.) Entre ser honrado aqui e agora pelos homens e ser honrado por Deus, a diferença é enorme. A humildade também tem galardão, tanto nessa vida como na que há de ser. É melhor ficar livre de qualquer medo!

O modelo de Jesus deve ser seguido. Mesmo “subsistindo em forma de Deus”, o Senhor se esvaziou, assumiu a forma humana, tomou a posição do servo e foi obediente até à morte e morte de cruz. Então, importa que haja em nós “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5-8).

.:: Por Pr. Elben César
Jornal Atos Hoje

Um comentário:

Anônimo disse...

Como foi importante a morte de Cristo no calvario pra minha e pra sua e pra vida de todos aquele que cre em seu sacrifio na cruz.