terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Sociedade dos Sem-anel

É impressionante como nossas vidas são diferentes e ao mesmo tempo como nossas experiências e perspectivas compartilhadas sobre estar solteiro nos ajudam a preencher nossas lacunas.


Uma viúva de 62 anos, dois rapazes de 20 e poucos anos, uma mulher de 40 anos que nunca se casou e uma moça de 27 anos como porta-voz para a pureza sexual. Não, esta não é a chamada para um reality show de namoro na televisão. É uma lista de algumas pessoas que conheci nas últimas semanas. Em todos estes encontros, fiquei impressionada com o quanto nossas vidas são diferentes e ao mesmo tempo quão bem nossas experiências e perspectivas compartilhadas sobre estar solteiro nos
ajudaram a preencher nossas lacunas.
A jovem de 27 anos e eu trocamos os nomes de nossas comédias românticas favoritas e conversamos sobre lidar com a possibilidade de nunca nos casarmos. Os jovens
solteiros e eu conversamos durante uma aula na igreja sobre como pode ser difícil para um solteiro se sentir parte de uma comunidade. A mulher de 40 anos e eu conversamos sobre a gradativa mudança de nossas expectativas ao longo dos anos e a alegria de sermos tias. A viúva de 62 anos e eu choramos juntas ao relembrar a perda de seu maravilhoso marido há apenas 2 anos e tentei encorajá-la em sua nova jornada que trouxe medo e surpresas ao retornar à vida de solteira.
Admito que gosto muito de conhecer novas pessoas: solteiras ou casadas. Amo a
forma como interagem com outros que tiveram uma caminhada diferente da
minha, o que amplia meu olhar e paradigma. Mas há algo especial que
acontece quando, no meio de nossas apresentações, a pessoa que você
cumprimenta e você mesmo percebem que ambos são solteiros. De repente,
compreendemos que estamos lendo o mesmo roteiro. As personagens e o
local podem ser diferentes, mas muitas questões do roteiro são idênticas ou parecidas. Também percebi que grande parte do nosso vínculo especial é proveniente de nossa dor compartilhada. Conhecemos as mesmas frustrações, solidão, expectativas e medos sobre o futuro.
Sabemos que por trás do sorriso acolhedor, a pessoa que conhecemos
também compartilha dos mesmos ferimentos neste mundo caído. E nestes
encontros significativos experimentamos Deus trazendo beleza das
cinzas, alegria de nossa dor (Isaías 61.3).
Sempre dei ênfase e valor à importância que nossos amigos solteiros têm em nossa
vida. Há pouco tempo fui relembrada de seu papel essencial quando uma
amiga solteira cuidou de mim em uma noite após um dolorido término de
namoro. Quando ela ouviu o que acontecera, chegou à porta da minha casa
com chocolates e um filme de comédia (uma comédia que não era
romântica, o que é difícil de achar!). Ela ouviu meu lamento, me
consolou e compreendeu, pois já havia passado por uma situação idêntica
no ano anterior. Como isso já havia acontecido com ela, compreendia a
dor de perder alguém que amava, de retroceder à estaca zero. Muito do
que eu sentia não precisava explicar, pois esta irmã solteira
simplesmente sabia. E, conhecendo os sentimentos, compartilhou da minha
dor, eventualmente tornando-a mais leve.
Também aprendi que ser real e autêntico tem muito a ver com a possibilidade de experimentar todas as bênçãos da sociedade dos sem-anel. Cada vez que falamos sobre as dificuldades de se estar solteiro – as solitárias tardes de domingo, os
convites de casamento de pessoas dez anos mais jovens do que nós, a
centésima vez que ouvimos a pergunta: “Por que você não é casado?”, sentir saudade de alguém que nem conhecemos – com alguém que compreende, não estamos mais sozinhos quando estes momentos chegarem novamente. Cada vez que mostro essa ferida para algum de meus irmãos ou irmãs, meu fardo é compartilhado e torna-se mais leve. De repente, quando recebo mais uma pergunta insensível sobre
estar solteira, meus amigos solteiros estão comigo em espírito, rindo do absurdo deste questionamento.
É claro, se estamos falando apenas dos momentos difíceis, estamos compartilhando com nossos amigos e conhecidos apenas metade da experiência de estarmos solteiros. Não quero que meus amigos solteiros sejam apenas amigos para as horas difíceis e não quero que minha fala desta fase da vida seja negativa, pois eventualmente só a sentirei como negativa. É por isso que nas últimas semanas me diverti tanto ao falar sobre a alegria de ser tia e também da realidade – às vezes deliciosa – de pensar que se Deus tem um marido ou esposa preparado para nós no futuro, ainda teremos a
experiência do primeiro encontro, do pedido de namoro, da primeira vez que andamos de mãos dadas, do primeiro beijo. Uma amiga solteira compartilhou sobre abrir um negócio sozinha e o medo que esta nova empreitada apresenta caso ela falhe, uma vez que não terá ninguém para cuidar dela caso isso aconteça. Mas conhecendo o risco e admirando sua coragem, pude encorajá-la nesta aventura solitária. Adoro poder sair
com amigos solteiros para jantar após o trabalho, decidir na hora se queremos assistir ao nosso programa preferido na casa de alguém ou ficar ao telefone.
Talvez uma das maiores bênçãos que podemos oferecer uns aos outros na comunidade de solteiros é ajudar na transição desta fase da vida. Seja devido ao divórcio ou a morte do cônjuge, qualquer questão que force alguém ao nosso time de solteiros é
algo dolorido. E essas pessoas precisam de nossa empatia, segurança e amizade conforme sofrem essa completa e súbita mudança de vida.
A viúva com quem conversei recentemente me contou sobre sua tristeza e seu luto, além da surpresa de estar repentinamente de volta ao grupo dos solteiros em sua idade e pude me relacionar com seus desafios e dúvidas até agora, além de contar a ela sobre experiências boas que ela ainda viveria nesta fase. Foi gratificante poder dizer: “Você pode fazer isso!”, porque dividindo este encorajamento e a verdade, sou
relembrada de que eu também posso viver isso.
Como solteiro, eu me atreveria a dizer que é nossa responsabilidade ajudar essas pessoas em sua dor e caminhar com elas nessa enorme transição. Que razão excelente
para viver uma vida solteira abundante e completa e ter conversas abençoadoras freqüentes, e ser capaz de reassegurar a essas almas que sofrem na fase de solteiros, isso é uma tarefa nobre!
E sobre a diversidade entre os solteiros, desde os jovens solteiros de 20 e
poucos anos, os solteiros de 30 e poucos anos que têm seus relógios biológicos a ponto de explodir, os pais solteiros de 40 anos, os divorciados de 50 anos, os viúvos de 60: isso me lembra da forma como o corpo de Cristo deveria funcionar. Apesar de compartilharmos o status de solteiros e isso ser nosso elo, nossas diferentes caminhadas através dessa fase podem trazer grande riqueza. Posso me beneficiar do
romantismo dos jovens de 20 anos, ouvir as lições de quem passou por um divórcio, enxergar como é a vida de um solteiro que tem anos a mais do que eu. Fazendo isso, funcionamos como um corpo de muitos membros, usando nossas experiências únicas e nossos dons para abençoar o todo, conforme descrito em Romanos 12.
Ao funcionarmos como corpo, podemos ser parte da verdade da qual sempre me senti excluída como solteira, mas percebi que certamente é direcionada também para nós da sociedade dos sem-anel: “Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade”
(Eclesiastes 4:12).

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